sábado, 26 de fevereiro de 2011

“A primeira vez a gente nunca esquece.”

Meu primeiro contato com filosofia (do grego φιλοσοφία – philosophía, que quer dizer amor à sabedoria) foi na época da faculdade. Duas disciplinas: Filosofia e Filosofia do Direito.
Muito nova de idade e mais interessada no Direito aplicado à prática forense, não consegui distinguir a importância das teorias filosóficas na vida e na profissão.
Achei, na verdade, uma chatice. Confesso.
Nos anos pós-faculdade, acabei por ler textos esparsos e livros cujo tema era filosofia ou cujo viés era filosófico. O interesse despertado em mim por alguns desses livros deveu-se mais às histórias (inclusive biográficas) dos filósofos do que propriamente ao substrato teórico.
Exemplifico: Nietzsche e Schopenhauer. Nunca li nada escrito diretamente por eles. Li suas histórias e pensamentos postos em obras de outros escritores.
Com Nietzsche antipatizei logo. De Schopenhauer tive pena, por notar quão atormentada era sua alma.
Meras impressões? Pouco conhecimento de causa? Equívocos absurdos? Provavelmente sim, para todas as perguntas.
Outro contato com filosofia foi revelado no convívio social. Há pessoas que passam a vida filosofando, teorizando – o que é simples e cru, por exemplo – e questionando os porquês de tudo. Falam, de modo difícil até, divagam e, ao final, nada dizem que valha a pena ser ouvido. Apenas mais chatice.
Como se vê, sempre tive restrições à filosofia. Preguiça mesmo. Sou desprovida de inteligência? Talvez...
O interessante é que gosto de teoria, no sentido de fonte de fundamentos jurídicos, de norte para a ciência política, de origem para a democracia, aqui citados como exemplos.
Em razão disso, resolvi tentar, até porque cresci e, provavelmente, meus gostos evoluíram na medida do amadurecimento.
Por indicação, li “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”, de Immanuel Kant.
Leitura árdua e vagarosa, mas que, por fim, mostrou-me algo que muito me surpreendeu: até o mais simples dos mortais filosofa, sem saber, o tempo todo no decorrer da vida. Tudo que imaginamos, as escolhas que fazemos, os meios adotados para agir, a busca racional por ser uma boa pessoa e fazer o bem, são filosofia aplicada na prática. É a adequação do cotidiano à teoria ou a aplicação da filosofia na vida rotineira. Via de mão dupla, foi assim que compreendi.
A partir de hoje pretendo ler mais filosofia e conhecer melhor seus pensadores e ideias.
Dispensarei, é óbvio, os chatos que se autonomeiam filósofos – pura fraude; colocarei em alta conta os filósofos que nada têm de chatos e dizem coisas relevantes, que nos fazem refletir.
Não esperem que eu saia filosofando e citando filósofo daqui, filósofo de lá, pensamento assim, pensamento assado, para embasar meus humildes escritos. Sou pragmática demais para tanta teoria.
Nietzsche, acho, continuará no meu “limbo”.
Kant, por outro lado, parece que ensinar-me-á a pensar. Com ele, tive minha verdadeira primeira vez. E dessa a gente nunca esquece...
17/02/11