quarta-feira, 30 de março de 2011

“Interlúdio (ou: Crônica introdutória 2).”

Se fosse escrever a crônica introdutória do blog hoje, usaria, com certeza, texto de Carlos Drummond de Andrade, retirado do livro “O avesso das coisas”.
Cai como luva em um blog que se presta despretensiosamente a falar de fatos do cotidiano e do que é corriqueiro.
Pudera eu escrever como meu conterrâneo... Talvez em outra vida.

“Assim como os antigos moralistas escreviam máximas, deu-me vontade de escrever o que se poderia chamar de mínimas, ou seja, alguma coisa que, ajustada às limitações do meu engenho, traduzisse um tipo de experiência vivida, que não chega a alcançar a sabedoria mas que, de qualquer modo, é resultado de viver.
Andei reunindo pedacinhos de papel em que estas anotações vadias foram feitas e ofereço-as ao leitor, sem que pretenda convencê-lo do que penso nem convidá-lo a repensar suas idéias. São palavras que, de modo canhestro, aspiram a enveredar pelo avesso das coisas, admitindo-se que elas tenham um avesso, nem sempre perceptível mas às vezes curioso ou surpreendente.”
30/03/11

segunda-feira, 21 de março de 2011

“Qual é a medida da franqueza?”

Cortei meus cabelos curtos, não tão curtos como já foram no passado, mas bem mais curtos do que o padrão feminino brasileiro e brasiliense.
Uns gostaram (e elogiaram, acredito que de forma sincera). Outros, provavelmente, não gostaram, o que é absolutamente normal. Afinal, o que seria do amarelo se todos gostassem só do azul!? Além do mais, divergência de opiniões e gostos faz a vida ser mais interessante de ser vivida...
O que não pode, pois fere regras básicas de educação e cordialidade, é, de maneira gratuita, criticar, pejorativamente, o visual de uma pessoa. E dar opinião que não foi solicitada! E se meter onde não foi chamado!
E não é que aconteceu comigo!? Tive que ouvir de um colega da pós-graduação, boquiaberta e quase sem palavras para retrucar, que “não prestei” de cabelos curtos. Colega esse que só sabe meu nome e eu o dele, por quem tenho coleguismo e não amizade. Não conhece meus gostos, não sabe a qual tribo pertenço e nem os motivos práticos pelos quais cortei meus cabelos.
Respondi, educadamente, que gostei e minha opinião é a que realmente importa.
A franqueza, na verdade, é qualidade que admiro nas pessoas. Mas tudo tem limite!
Opinar ou aconselhar francamente quando perguntado é louvável.
Enxergar desvios de caráter, “não tapar o sol com a peneira”, responder à altura a todas as discussões, falar abertamente sobre o que incomoda, demonstrar descontentamento quando algo não agrada, não fingir o que não sente, não calar diante de injustiças, não aplaudir quem não merece aplauso e vaiar quem é digno de vaias são qualidades admiráveis em uma pessoa.
Normalmente sou muito franca, mais até do que deveria. Já passei por maus bocados por causa disso. E ainda passo...
No entanto, não consigo compactuar com fingimentos, teatro e injustiças.
Gosto das coisas preto no branco. Se me perguntam, eu falo. Ainda que atinja os mais reprimidos sentimentos de pessoas de quem gosto muito.
Sempre foi, é e sempre será assim.
Prefiro pecar por ser eu mesma – franca – do que passar a vida fingindo ser o que não sou ou botando panos quentes em tudo. Por exemplo, desculpar o que é indesculpável? Não dá! Fingir que não vi ou senti? Impossível!
Tudo gira em torno do livre arbítrio. Escolhemos ser o que queremos, optamos por mentir ou falar a verdade, representar um papel ou viver a vida que temos (e merecemos).
E, ao final, devemos arcar com as consequências dessa vida inventada ou da real.
E também colher os frutos da nossa franqueza, ainda que doa.
21/03/11