quarta-feira, 21 de setembro de 2011

"O futuro Brasil do passado."

Li matéria jornalística sobre a proposta de reforma política apresentada pelo PT, que contém ponto sobre o financiamento público das campanhas eleitorais.
A proposta recebeu críticas severas de juristas. Fiquei em alerta especialmente no que diz respeito a duas questões. Os fundamentos da democracia seriam abalados? O voto consciente do povo ficaria comprometido?
Eleição é atributo da democracia. Ela, em tese, deve resguardar o processo consciente e livre de escolha pelos eleitores. Infelizmente, como já disse em outras crônicas, no Brasil é comum a manipulação do eleitor e a “compra” de votos, que acabam por promover o direcionamento da preferência popular a candidatos determinados.
Condutas do tipo buscam, na verdade, a manutenção de determinadas pessoas no poder e, consequentemente, de partidos políticos, que perpetuam ideologias e desmandos. Condutas do tipo transformam em eterno o governo da hora. A democracia não pode se prestar a isso.
A despeito de opiniões divergentes, acredito que tais ações são um passo para o autoritarismo e o controle estatal sobre a opinião e, porque não dizer, a vida dos cidadãos.
Argumento favorável à proposta é que o financiamento das campanhas exclusivamente com dinheiro público traria um equilíbrio entre os candidatos e privilegiaria a impessoalidade do Estado.
De fato. Esse ponto é positivo, mas os fins, no caso, justificam os meios? Os objetivos de igualdade e equilíbrio nas campanhas eleitorais autorizam o uso do patrimônio estatal em campanhas eleitorais? Não sei dizer... Coibiria, por outro lado, o financiamento privado de campanhas, o “caixa dois” e a manipulação do eleitor? Acho difícil... No Brasil é comum o “jeitinho” para tudo. Não seria diferente no caso.
Não é só a proposta acima referida que me chama a atenção sobre o atual momento político do país. O aumento excessivo do IPI sobre automóveis importados sinaliza, a meu ver, o intuito do Estado de controlar o direito de propriedade dos cidadãos. A tributação excessiva não só aumenta a arrecadação do Estado, mas cerceia a liberdade de escolha dos consumidores, tendo em vista que o valor final do bem é impeditivo de sua aquisição. É desnecessário mencionar que o percentual do IPI, 30%, é quase confisco...
Será que no futuro do país controle, censura, autoritarismo e ditadura serão lugares comuns? Será que no futuro do país a palavra democracia será morta e enterrada? O Brasil do futuro voltará ao passado, à longínqua década de 80, em que as pessoas andarão de Fusca e não terão acesso a tudo o que a globalização oferece? Ficam as perguntas...
20/9/11

terça-feira, 20 de setembro de 2011

"Anonimato."

Hoje ocorreu algo muito desagradável. Um “Anônimo” acessou o blog e fez um comentário desnecessário em uma das crônicas, atacando, se assim posso dizer, o comentário feito por outro leitor. Excluí o comentário, até porque apócrifo. Não posso deixar que meus leitores, que gentilmente comentam e assinam, sejam gratuitamente ofendidos por alguém desconhecido.
Quem não tem medo, assina. O anonimato é desprezível e próprio dos covardes, que não assumem o que dizem ou falam. E meu blog não se presta a ser esconderijo para pessoas do tipo. Ele é essencialmente democrático e opiniões são sempre bem-vindas, desde que sinalizem a fonte.
Anonimato só é permitido se o objetivo é resguardar a vida e a integridade de um delator, por exemplo. É até recomendado. No mais das vezes, porém, é reles e com desprezo merece ser tratado.
Por isso, peço, gentilmente, a esse fulano ou fulana que não mais acesse meu blog. Leitores assim eu dispenso.
19/9/11

sexta-feira, 20 de maio de 2011

“Homenagem a uma velhinha muito maneira.”

Hoje, a calça jeans completa 138 anos de existência, contados a partir do registro de sua patente nos Estados Unidos.
Foi criada para atender aos trabalhadores braçais que buscavam um tecido mais resistente e que não deteriorasse com facilidade.
Eureca! Agradou tanto, que não só os operários aderiram à sua praticidade, como qualquer ser humano são, lá nos States e também no mundo todo.
Virou moda.
Criança usa, adolescente usa, adulto usa, velho usa.
Pobre usa, rico usa.
Gente boa veste, sangue ruim, idem.
Todos adotaram a calça jeans, sem preconceitos: qualquer tribo, qualquer raça, independente de crença, de classe social, de opção sexual.
Há para todos os gostos: modelo normal, modelo fashion, modelo de cintura baixa, modelo de cintura alta, boca larga, boca de sino, cigarrete, corsário, blue, black, lavada, rasgada, manchada.
Existe a de preço bom e a que vale preço de ouro.
Enfim, ela é democrática, liberal.
Parabéns, calça jeans!
Sem você, a vida rotineira nesse cotidiano doido não seria a mesma.
20/05/11

quarta-feira, 18 de maio de 2011

“A bem da verdade.”

Em outra oportunidade, disse que sou muito franca e que a franqueza, às vezes, traz problemas de convivência amigável em sociedade e família.
E isso porque, normalmente, quando pessoas solicitam a opinião de outras ou pedem conselho, pretendem, na verdade, ouvir exatamente o que querem. Então, por que perguntam? Se já sabem a resposta, devem agir de acordo com seu entendimento, sendo ele certo ou errado, e adotar posturas que podem ou não ser simpáticas aos olhos dos outros. E arcar com as consequências, ora bolas!
O ser humano, porém, necessita de autoafirmação, concordância alheia, suporte emocional, apoio irrestrito, enfim, bajulação.
Via de regra é assim.
E eu, com minha boca enorme, acabo falando o que realmente considero acertado e justo, sem mascarar a verdade ou tomar partido de fulano ou sicrano, de contexto assim ou assado.
E o que ganho com isso?
Talvez, fama de antipática e dona da verdade. Vai saber...
Talvez, fama de ser justa. Ainda bem, pois esse é o objetivo.
Mas também fico mais solitária, porque acabo por afastar os que não me conhecem direito e os que não querem conviver com quem lhes atinge a consciência. Consciência pesada dói mais do que machucado, não é?
Ser franca, então, nem sempre vale a pena.
Faz tempo que optei por não pedir conselhos a ninguém. É claro que vez por outra fujo à regra, a depender da situação. Contudo, quando o assunto é muito importante e comprometedor, prefiro decidir sozinha, até porque serei a única a colher frutos, bons ou ruins, da minha decisão. E não é bom nem justo jogar a culpa no outro depois. Se sou adulta e dona do meu nariz, devo agir como tal.
Preciso agora é aprender a ficar de boca fechada.
Daqui para frente será assim: se perguntarem, não falo; se pedirem minha opinião, não dou, a não ser que me paguem. Não diz o ditado que se conselho fosse bom, vendiam? Então, esse é meu novo lema.
18/05/11

terça-feira, 10 de maio de 2011

“Mademoiselle Chambon (ou Breves impressões sobre um filme francês).”

Pura simplicidade.
Silêncios entrecortados por raras palavras.
Olhares que dizem tudo.
Expressões faciais que dizem pouco.
Sentimentos reprimidos.
Amor.
Família.
Único encontro é despedida?
Por fim, casamento que vence paixão.
As obrigações familiares falaram mais alto do que o sonho.
10/05/11

segunda-feira, 2 de maio de 2011

“Entendendo Kevin.”

Meses atrás escrevi a crônica “Precisamos falar sobre o Kevin”, na qual expus minhas impressões sobre o livro de mesmo nome. A autora conta a história do problemático garoto Kevin que, aos dezesseis anos de idade, sem motivo aparente, matou pai, irmã e colegas de escola, ao mesmo tempo em que mostra as reflexões da mãe sofrida em busca de compreensão sobre a personalidade diabólica do filho marginal.
Esse livro perturbou-me e encheu-me a cabeça de questionamentos sobre a natureza da crueldade de algumas ações humanas. Questionamentos que nunca me abandonaram, nem poderiam, considerando que sou (somos) expectadora (es) de tragédias como as causadas por Kevin, rotineiramente narradas na mídia. Tragédias que chocam, entristecem e revoltam.
Recentemente li “Mentes Perigosas – O Psicopata Mora ao Lado”, de autoria da psiquiatra e escritora Ana Beatriz Barbosa Silva. Na capa do livro há a seguinte frase (promessa?): “Como reconhecer e se proteger de pessoas frias e perversas, sem sentimento de culpa, que estão perto de nós”.
Pensei que fosse encontrar uma cartilha com passos para evitar e espantar para longe psicopatas que andam soltos por aí na sociedade.
Realmente, a obra ilustra exemplos verídicos de psicopatas, todos com determinados padrões de personalidade e comportamento, que podem ser detectados pelos mais avisados e atentos, como é o caso dos que se deram ao trabalho de ler o livro.
Mostra, ainda, o lado científico da psicopatia, que, a meu ver, é desencadeada por problemas neurobiológicos (palavras da autora) conjugados ao ambiente em que vive o, se assim posso chamá-lo, candidato à doença.
O psicopata não possui sentimento bom ou nobre por nada nem ninguém – palavras de leiga que sou.
Ele nasce assim e tende a piorar, a depender dos fatores sociais a que é exposto.
É problema físico somado ao tipo de criação a que se submete.
É desanimador constatar que nada pode ser feito, nem para tratar de pessoas acometidas pela doença - até porque elas não se veem doentes - nem para proteger-nos de seus atos.
Podemos até evitar o convívio, mas, sinceramente, ninguém está a salvo.
Tenho a dizer, então, à mãe de Kevin: a culpa não é sua, você fez o que pôde, deu a melhor educação possível e amor, mas seu filho já nasceu doente, sem cura e simplesmente não gosta de você.
02/05/11

segunda-feira, 11 de abril de 2011

“O tic-tac do relógio.”

Na última crônica relatei um pouco o que é ser concurseira e os atuais problemas de desconcentração e desânimo que há semanas tomaram conta de mim, sem trégua.
Hoje vim à biblioteca, imaginando que o ambiente calmo e silencioso, próprio para o estudo, onde tantas vezes estive, pudesse ajudar-me a me concentrar.
Pobre de mim! Demorei uma hora para ler uma página de um livro que, provavelmente, nem conseguirei fixar na memória. Em outros tempos, uma hora de leitura rendia, pelo menos, vinte páginas!
Ouço o tic-tac do relógio, tosses, passos e conversas sussurradas dos que estão à minha volta.
Mas, concentração que é bom, resolveu não dar o ar da graça.
A culpa, por outro lado, desabou sobre mim e os questionamentos sobre meu futuro profissional martelam minha mente.
Manhã inútil, improdutiva e mentalmente desgastante!
O que fazer? Tirar férias e dar um tempo? Ir para um retiro espiritual em busca de paz? Fazer terapia? Insistir? Ou desistir de vez?
No momento, só me resta esperar, impacientemente, o relógio bater o meio-dia e ir para casa almoçar. E também chorar...
Tic-tac, tic-tac, tic-tac...
11/04/11

terça-feira, 5 de abril de 2011

“E agora, José?”

Sou concurseira.
Palavra feia que deveria significar, na raiz, sacrifício.
E sofrimento, com pitada de cansaço e toneladas de autocobrança.
Ser concurseira é debruçar-se sobre livros, incessantemente, sem descanso, sem dia santo ou feriado, sem vida social (ou familiar), por horas e horas diárias. Em resumo: é não ter vida.
O objetivo maior é alcançar um lugar ao sol no serviço público. Também estabilidade e dinheiro, é óbvio.
Nesse tempo em que venho me dedicando exclusivamente aos estudos, tive altos e baixos, quanto aos aspectos de dedicação, ânimo, disciplina e esperança.
Há semanas em que o estudo rende e então a esperança de passar me arrebata.
Há outras, porém, em que a concentração insiste em me deixar na mão e com ela se vão a disciplina e o ânimo para alcançar meu sonho profissional.
Já pensei que sou burra porque não passo, acreditei que simplesmente não sou boa em resolver provas, fiquei deprimida por isso e por tudo o mais, repeti que talvez eu sonhe alto demais, quis largar tudo e voltar a trabalhar, nem que fosse de garçonete.
Quando, conscientemente, deixei o emprego e decidi estudar, não imaginei que fosse ser tão difícil. Decisão que exigiu tanto de mim e comprometeu tantas coisas à minha volta!
Acreditei, na verdade, que, por ter sido boa aluna e cursado boas faculdade e pós-graduação, somado ao gosto que sempre nutri pelo estudo, cumpriria rapidamente minha meta.
Não tem sido bem assim...
A vida de concurseira é ingrata.
Mas meu maior inimigo sou eu mesma. Eu me cobro, culpo e deprimo.
E assim a perseverança voa para longe, tão longe, que nem sei se consigo pegá-la... Junto dela, me parece, vai o cargo que tanto almejo...
E aí, o que fazer da vida?
Mudar os planos totalmente? Mas como fica o sonho profissional?
Insistir nos concursos? E qual a fórmula para manter força e concentração?
Tentar outra coisa que vá me apetecer? Aí fala meu lado aventureiro, aquele que sofre de “insatisfação constante”, sobre o qual comentei em outra oportunidade.
Assumir o lado dona-de-casa e passar a vida cuidando de mim e dos meus, da casa, do físico, da alimentação, da leitura, do cinema, da minha escrita?
- “E agora, José?”
- Diga-me você, Drummond.

P.S.: E assim escreveu Carlos Drummond de Andrade:

José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

05/04/11

quarta-feira, 30 de março de 2011

“Interlúdio (ou: Crônica introdutória 2).”

Se fosse escrever a crônica introdutória do blog hoje, usaria, com certeza, texto de Carlos Drummond de Andrade, retirado do livro “O avesso das coisas”.
Cai como luva em um blog que se presta despretensiosamente a falar de fatos do cotidiano e do que é corriqueiro.
Pudera eu escrever como meu conterrâneo... Talvez em outra vida.

“Assim como os antigos moralistas escreviam máximas, deu-me vontade de escrever o que se poderia chamar de mínimas, ou seja, alguma coisa que, ajustada às limitações do meu engenho, traduzisse um tipo de experiência vivida, que não chega a alcançar a sabedoria mas que, de qualquer modo, é resultado de viver.
Andei reunindo pedacinhos de papel em que estas anotações vadias foram feitas e ofereço-as ao leitor, sem que pretenda convencê-lo do que penso nem convidá-lo a repensar suas idéias. São palavras que, de modo canhestro, aspiram a enveredar pelo avesso das coisas, admitindo-se que elas tenham um avesso, nem sempre perceptível mas às vezes curioso ou surpreendente.”
30/03/11

segunda-feira, 21 de março de 2011

“Qual é a medida da franqueza?”

Cortei meus cabelos curtos, não tão curtos como já foram no passado, mas bem mais curtos do que o padrão feminino brasileiro e brasiliense.
Uns gostaram (e elogiaram, acredito que de forma sincera). Outros, provavelmente, não gostaram, o que é absolutamente normal. Afinal, o que seria do amarelo se todos gostassem só do azul!? Além do mais, divergência de opiniões e gostos faz a vida ser mais interessante de ser vivida...
O que não pode, pois fere regras básicas de educação e cordialidade, é, de maneira gratuita, criticar, pejorativamente, o visual de uma pessoa. E dar opinião que não foi solicitada! E se meter onde não foi chamado!
E não é que aconteceu comigo!? Tive que ouvir de um colega da pós-graduação, boquiaberta e quase sem palavras para retrucar, que “não prestei” de cabelos curtos. Colega esse que só sabe meu nome e eu o dele, por quem tenho coleguismo e não amizade. Não conhece meus gostos, não sabe a qual tribo pertenço e nem os motivos práticos pelos quais cortei meus cabelos.
Respondi, educadamente, que gostei e minha opinião é a que realmente importa.
A franqueza, na verdade, é qualidade que admiro nas pessoas. Mas tudo tem limite!
Opinar ou aconselhar francamente quando perguntado é louvável.
Enxergar desvios de caráter, “não tapar o sol com a peneira”, responder à altura a todas as discussões, falar abertamente sobre o que incomoda, demonstrar descontentamento quando algo não agrada, não fingir o que não sente, não calar diante de injustiças, não aplaudir quem não merece aplauso e vaiar quem é digno de vaias são qualidades admiráveis em uma pessoa.
Normalmente sou muito franca, mais até do que deveria. Já passei por maus bocados por causa disso. E ainda passo...
No entanto, não consigo compactuar com fingimentos, teatro e injustiças.
Gosto das coisas preto no branco. Se me perguntam, eu falo. Ainda que atinja os mais reprimidos sentimentos de pessoas de quem gosto muito.
Sempre foi, é e sempre será assim.
Prefiro pecar por ser eu mesma – franca – do que passar a vida fingindo ser o que não sou ou botando panos quentes em tudo. Por exemplo, desculpar o que é indesculpável? Não dá! Fingir que não vi ou senti? Impossível!
Tudo gira em torno do livre arbítrio. Escolhemos ser o que queremos, optamos por mentir ou falar a verdade, representar um papel ou viver a vida que temos (e merecemos).
E, ao final, devemos arcar com as consequências dessa vida inventada ou da real.
E também colher os frutos da nossa franqueza, ainda que doa.
21/03/11

sábado, 26 de fevereiro de 2011

“A primeira vez a gente nunca esquece.”

Meu primeiro contato com filosofia (do grego φιλοσοφία – philosophía, que quer dizer amor à sabedoria) foi na época da faculdade. Duas disciplinas: Filosofia e Filosofia do Direito.
Muito nova de idade e mais interessada no Direito aplicado à prática forense, não consegui distinguir a importância das teorias filosóficas na vida e na profissão.
Achei, na verdade, uma chatice. Confesso.
Nos anos pós-faculdade, acabei por ler textos esparsos e livros cujo tema era filosofia ou cujo viés era filosófico. O interesse despertado em mim por alguns desses livros deveu-se mais às histórias (inclusive biográficas) dos filósofos do que propriamente ao substrato teórico.
Exemplifico: Nietzsche e Schopenhauer. Nunca li nada escrito diretamente por eles. Li suas histórias e pensamentos postos em obras de outros escritores.
Com Nietzsche antipatizei logo. De Schopenhauer tive pena, por notar quão atormentada era sua alma.
Meras impressões? Pouco conhecimento de causa? Equívocos absurdos? Provavelmente sim, para todas as perguntas.
Outro contato com filosofia foi revelado no convívio social. Há pessoas que passam a vida filosofando, teorizando – o que é simples e cru, por exemplo – e questionando os porquês de tudo. Falam, de modo difícil até, divagam e, ao final, nada dizem que valha a pena ser ouvido. Apenas mais chatice.
Como se vê, sempre tive restrições à filosofia. Preguiça mesmo. Sou desprovida de inteligência? Talvez...
O interessante é que gosto de teoria, no sentido de fonte de fundamentos jurídicos, de norte para a ciência política, de origem para a democracia, aqui citados como exemplos.
Em razão disso, resolvi tentar, até porque cresci e, provavelmente, meus gostos evoluíram na medida do amadurecimento.
Por indicação, li “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”, de Immanuel Kant.
Leitura árdua e vagarosa, mas que, por fim, mostrou-me algo que muito me surpreendeu: até o mais simples dos mortais filosofa, sem saber, o tempo todo no decorrer da vida. Tudo que imaginamos, as escolhas que fazemos, os meios adotados para agir, a busca racional por ser uma boa pessoa e fazer o bem, são filosofia aplicada na prática. É a adequação do cotidiano à teoria ou a aplicação da filosofia na vida rotineira. Via de mão dupla, foi assim que compreendi.
A partir de hoje pretendo ler mais filosofia e conhecer melhor seus pensadores e ideias.
Dispensarei, é óbvio, os chatos que se autonomeiam filósofos – pura fraude; colocarei em alta conta os filósofos que nada têm de chatos e dizem coisas relevantes, que nos fazem refletir.
Não esperem que eu saia filosofando e citando filósofo daqui, filósofo de lá, pensamento assim, pensamento assado, para embasar meus humildes escritos. Sou pragmática demais para tanta teoria.
Nietzsche, acho, continuará no meu “limbo”.
Kant, por outro lado, parece que ensinar-me-á a pensar. Com ele, tive minha verdadeira primeira vez. E dessa a gente nunca esquece...
17/02/11

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

“Os porquês da vida.”

Ontem fiquei sabendo de uma história que muito me chocou e deixou triste. O irmão de uma amiga querida, quando saía do hospital em que dava plantão – ele era médico – foi assassinado cruelmente por bandidos que lhe roubaram o carro na Baixada Fluminense. E, pasmem, ele não havia reagido... Matá-lo foi pura maldade...
Além da saudade e da revolta, ele deixa mulher, filho bem pequeno, pais, irmã, sobrinha e amigos.
Perdi o apetite, passei o dia angustiada e, é óbvio, fiquei insone. E os porquês assombraram minha mente...
Lemos nos jornais, todos os dias, notícias como essa, acontecidas, principalmente, no Rio de Janeiro. A cidade maravilhosa, às vezes, não é tão maravilhosa assim... O que é uma pena.
As UPP (unidades pacificadoras da polícia) implantadas nas favelas da cidade trouxeram um bem tremendo à população, que há tempos era refém da bandidagem.
Ocorre, porém, que os bandidos, expulsos dos morros, povoam agora a baixada fluminense, tornando a vida daqueles que lá residem ou trabalham verdadeiro inferno.
E qual será a solução? O que pode o governo do Estado contra o crime organizado?
Além do problema social e político, quando se fala em punição sempre há conflito de interesses entre direitos humanos e direito penal.
O que fazer com criminosos? O que é certo? Como punir e em que medida? A ressocialização do criminoso deve ser o objetivo maior? Cabe a lei de Talião, ou seja, morte aos que causam morte? Tortura aos que submetem pessoas à tortura?
São tantos questionamentos, morais até, religiosos e relacionados à dignidade da pessoa humana. Mas matar simplesmente por matar, por pura maldade, pode ser tolerado? Sinceramente não sei. De qualquer forma, algo precisa mudar no sistema punitivo do Brasil... Mexam-se autoridades e estudiosos!
Penso em Deus, em quem eu tanto confio. Mas penso na família dessa minha amiga. Será que ela ainda acredita Nele? Eu gostaria muito de entender Seus desígnios... Compreender por que as pessoas passam por provações como essa.
Clareie minhas ideias, meu Deus!
Aumentai minha fé em Ti!
Passei o dia imaginando a dor dos familiares, da esposa na cama vazia, da mãe que enterrou o filho – dor maior não há, dizem – da sobrinha adolescente que já “entende” os males da vida e do filho, tão pequeno, que, possivelmente, nem se lembrará do pai.
Lembrei-me de outra amiga, hoje com aproximadamente sessenta anos de idade, moradora, por muito tempo, do subúrbio do Rio de Janeiro e espectadora de tantas tragédias. Um dia ela me disse que optou por não ter filhos. Suas palavras: “Para que colocar filho nesse mundo doido e violento? Saber que seu filho pode não voltar para casa no fim do dia? Sinceramente não nasci para ter uma responsabilidade como essa.”
É, são coisas a se pensar... Responsabilidade pela vida e integridade de uma pessoa. Isso é muito sério, realmente.
Pensei e repensei, mas não achei resposta para nenhuma das perguntas...
As coisas da vida e seus porquês não têm explicação... Simples assim.
31/01/11

domingo, 16 de janeiro de 2011

“Clarice.”

Clarice Lispector, como é sabido, é escritora consagrada no meio literário brasileiro e sempre mereceu aplausos dos leitores e da crítica.
Não sei se o problema é meu ou dela, mas não gosto muito de Clarice. Provavelmente sou a única!
Há aproximadamente vinte anos (?), li “A hora da estrela”. Na época, ainda adolescente, não gostei do livro, talvez por não alcançar a linguagem da autora ou por não ter identificação com o tema. Ou por não agradar do estilo. Sei lá...
Desde então, como que traumatizada, nunca mais li nada de Clarice. Passei a evitá-la nas livrarias, nas bibliotecas, como se os livros estivessem contaminados por alguma doença contagiosa. É sério!
Mas acabei de ganhar um livro de crônicas, “Clarice na cabeceira”. Decidi lê-lo, até para constatar se, após tantos anos, mais madura em idade e em inteligência, finalmente conseguiria compreender os textos.
Não sei se sou limitada de intelecto ou se a escrita de Clarice não combina comigo pura e simplesmente. O fato é que continuo a não entender a maior parte do que ela escreveu.
Vislumbro Clarice como um Caetano Veloso de saias, repleta de histórias expostas de forma complicada, enrolada, tumultuada, enfim, sem nexo algum... Sempre filosofando e filosofando...
Nesse livro de crônicas há algumas inteligíveis, muito boas por sinal. Mas outras são verdadeiro amontoado de palavras, que soam sem sentido aos meus ouvidos.
Essa minha “preguiça” com relação a Clarice Lispector deve-se, quem sabe, ao meu próprio estilo de linguagem, sempre objetivo, curto e simples, de puro pragmatismo.
Já Clarice floreia tanto o que é corriqueiro que o corriqueiro passa a ser muito complicado.
O que sinto sobre a obra de Clarice Lispector é o mesmo que sinto quanto aos poetas que insistem em escrever sem rima e métrica. E poesia para mim pressupõe rima e métrica. É difícil entender a magia de um poema sem que as frases estejam encadeadas, sem que uma estrofe esteja conectada à mensagem exposta na estrofe anterior.
Mais uma vez não sei se o problema é meu. Se me falta inteligência ou sensibilidade.
Vai saber...
Perdoe-me, Clarice.
Mas, doravante, prometo tentar compreendê-la... E, quem sabe, apaixonar-me por você, assim como o resto da humanidade.
15/01/11

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

“Comer, rezar, amar.”

Esse é o título do livro de Elizabeth Gilbert, publicado há alguns anos e ainda hoje constando na lista dos mais vendidos no mundo.
Fazia tempo que, nas idas a livrarias, deparava-me com o livro, mas confesso que não sentia vontade de lê-lo, talvez por ter uma ideia pré concebida sobre o que esperar da leitura: mais uma historinha americana de auto ajuda.
Rendi-me recentemente à propaganda de ranking de livros e também à suposição de que se livro vira filme, via de regra, não pode ser tão ruim assim... E nem vi o filme, que fique claro.
Tiro o chapéu! Baixo a guarda! O livro foi escrito para mim... Caiu como luvas!
Identifiquei-me totalmente com as histórias autobiográficas da autora e com sua personalidade. Parece que senti o que ela sentiu, sofri dos mesmos males, amei da mesma forma, busquei por Deus do mesmo jeito e, principalmente, sempre fui tomada pela mesma curiosidade por viver tudo intensamente, assim como ela.
O livro fez com que eu parasse para refletir sobre tudo por que passei nessa vida e as fórmulas certas e erradas por mim utilizadas para conduzir meus passos, seja na vida amorosa, seja na familiar, na profissional, na religiosa e no meio social.
Concluí que sofri e sempre sofrerei do mesmo “mal” de Elizabeth Gilbert, que denomino, humildemente, insatisfação constante, como se fosse um persistente comichão, que tira o sono, que povoa a mente, que enche de ideias a cabeça, que amargura, que faz experimentar o novo, que faz sofrer tantas e tantas vezes...
Esse comichão, por outro lado – o bom – traz emoção, criatividade, curiosidade, perseverança, fé, ânimo e, o mais importante, permite a busca pelo melhor: o melhor amor, o melhor relacionamento, a melhor satisfação profissional, a melhor família, a melhor pessoa que posso ser, o melhor de Deus que habita em mim, em resumo, o equilíbrio interno.
Posso dizer que, sob vários aspectos, consegui encontrar o melhor que pude, mais até do que sonhei.
Mas a caminhada é longa e ainda resta muito a alcançar... Definir uma carreira, ter filhos, praticar todos os esportes, ser vegetariana (talvez), escrever livros, fazer caridade, conhecer o mundo, ser mais feliz do que sou, ter mais fé em Deus, ter paz de espírito, ser uma pessoa melhor, ser uma pessoa melhor, ser uma pessoa melhor... Enfim, fazer com que a passagem pela vida terrena tenha um propósito pelo bem.
12/01/11