sábado, 16 de outubro de 2010

“Envelhecer sim, mas com dignidade.”

Em menos de uma semana tive duas demonstrações escancaradas de que não tenho mais vinte anos.
Tenho trinta e quatro e a idade começa a pesar. Não é só a imagem que vejo no espelho, mas também a imagem que os outros têm de mim.
A primeira aconteceu no voo Brasília/Rio de Janeiro em que duas jovens, de não mais que vinte anos de idade, embarcaram às sete da manhã, vindas diretamente da noitada, ainda com as vestes negras da noite e completamente bêbadas.
E como tapas com luva de pelica sentaram-se ao meu lado. Passei a viagem reparando nas roupas impecáveis, nos sapatos e bolsas deslumbrantes, nos cabelos sedosos e sentindo o cheiro forte de álcool. Elas dormiram, quase em coma, a viagem inteira e nem se dignaram a passar mal.
Já fui assim um dia. Já aguentei bravamente uma noitada, seguida de aula na faculdade e emendada em estágio. E sem descer dos saltos ou colocar as tripas para fora.
Ai de mim se me aventurar a isso nos dias de hoje... Ficaria uma semana de cama, à base de sonrisal e com olheiras profundas.
Passei a semana a ruminar que a idade vem chegando, calmamente, sem aviso e de repente, não mais que de repente, as pelancas caem, as rugas riscam o rosto, o cansaço vira companheiro inseparável e a resistência ao álcool fica bem a desejar.
Como que aviso divino ou travessura do capeta, hoje tive mais uma demonstração do inevitável: a idade que chega. Na aula da pós-graduação, já atrasada – é claro e provavelmente de propósito – adentra a sala uma colega de vinte e poucos anos, bonita, magérrima e de cabelos escorridos, trajando um micro vestido justo nude, de calcinhas fio dental – sim, a marca era visível – sobre saltos quinze – sim, não é mentira.
Tudo parou: o professor de falar, os homens de respirar e as mulheres de escrever.
Em questão de segundos me senti a velha caída que não atrai mais nem gripe nessa vida...
Por sorte, abençoada que sou, não mais preciso "ir à caça"...
E se precisasse? Como competir com o frescor de uma garota de vinte anos?
Por culpa de Balzac, a mulher de trinta anos é quase avó. Apesar de gostar do livro, nunca me enquadrei na descrição do autor, nem poderia, já que o livro é da época do Romantismo.
Chegar à idade balzaquiana foi para mim grande satisfação, como se chegasse ao auge de minha vida.
Mas confesso que há uma semana e novamente hoje, senti o peso dos meus trinta e poucos anos. O corpo não é o mesmo, o vigor tampouco.
O que resta, então?
Restam tantas coisas que nem caberia enumerar aqui. Mas, em resumo, há experiência, maturidade e dignidade.
Experiência por tudo que vivi, os bons e maus momentos, que criaram em mim uma casca quase inabalável.
Maturidade para saber e buscar acima de tudo o que desejo, às vezes até sem pudor. Mas e daí?
E dignidade por olhar-me no espelho e perceber que tudo acontece no momento certo e não dá para querer voltar no tempo ou viver o que não mais me pertence.
Confesso que vou dormir com um aperto no peito por perceber que lutar contra a velhice é batalha perdida. O certo é conformar-se.
É melhor envelhecer sim, mas com dignidade.
15/10/10

13 comentários:

  1. Minha amada, entendo perfeitamente o que você escreve e sente...outro dia me ví semi alcoolizada rsrs, dançando numa disco daqui de Portugal, amarradona e feliz como fazíamos todas nós juntas num dia de Baronetti lembra? resolví olhar a volta e ví um grupo de avassaladoras juvenis dançando, mas elas dançavam diferente...então ví que nossos "passinhos" já eram out! me lembrei de quantas vezes ria das "tias" dançando no mesmo espaço que a gente e destoando de tudo e naquele dia me sentí exatamente assim...nem mais um passinho, uma fingida dor de cabeça e casinha rápido! me olhei no espelho e resolví rir do que tinha acontecido na noite, eu era uma canja, uma canja de pés de galinha!!! abaixei para pegar um lenço de papel e descobrí que novamente estava atacada com meu nervo ciático e a minha hérnia recém descoberta num TAC da coluna, olhei a minha tez da pele da minha coxa que sempre foi motivo de orgulho e ví que ela também já estava cansada e com nítidos sinais de envelhecimento, tristeza, deprê total, mas daí surge o Miguel, alheio a tudo que se passava no meu mundinho e meu sorriso voltou ao rosto,o seu desejo era vivo nos olhos e isso me trouxe 15 anos de vida e o amor veio com a experiência dos 36 anos e o vigor de menos 15! rsrsrs.
    Portanto amiga, a velhice é dura de encarar quando ela bate insistentemente na nossa porta e nós nos recusamos a deixá-la entrar, ela vai pular alguma janela e ao invés de ser uma visita esperada, vem como uma intrusa e nos agride muito mais! recebo hoje cada dia um traço e digo meio melancólica:- Pode entrar. Mas tem algo que é imortal que é nossa alma,nosso espírito e esse é que não pode envelhecer e nem perder o vigor é a paixão que mantêm vivo o nosso corpo e mente.
    Adorei seu texto e graças a Deus não estou sozinha nesse barco!!!kkkkkkkk as amigas também servem para isso e para um monte de outras lembranças maravilhosas que estarão vivas na nossa mente até que o ALZHEIMER não bata na nossa porta!hahahahaha

    Bjs, te amo e morro de saudades de todas vocês.

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  2. Baianinha, não sei se rio ou se choro do seu texto... Pronto, já decidi: rir muito! Adorei sua narrativa, como sempre repleta de detalhes francos e engraçados (se é que dá para rir da nossa "desgraça", né? rs). É muito bom poder compartilhar com as amigas queridas, como você, as minhas angústias, viu? Beijossss e muuuitas saudades!

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  3. Pode rir ou chorar amiga, qualquer um dos dois vai acentuar as nossas rugas!!! kkkkk mas com certeza rir muitoooooooooo faz um bem enorme e que façamos isso, mesmo sendo das nossas desgraças! Bjs amada

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  4. Nanda: Eh Quequel!! No campeonato de Bete, só vai dar balzaca!! KKKKKKKKKKK!! Sua reflexão veio logo após o e-mail da mãe de um amigo, questionando a independencia feminina...Ela parabenizava as que escolheram a jornada dupla, mas se sentia bem tendo se dedicado mais à familia. Posso dizer que estes dois temas, o avançar da idade e a independencia, tem povoado meus pensamentos... Talvez porque este ano estes temas se cruzaram claramente na minha vida... Estou longe do meu marido pra buscar minha realização profissional e me questiono se ela não podia ter sido "encontrada", trilhada antes, no final dos vinte... O tempo voa!! Não tenho respostas prontas. Mas sempre penso 2 coisas: sempre senti muito orgulho de ver minha mãe trabalhando fora e a esperava ansiosa chegar do trabalho e contar como tinha sido o dia dela. Hoje tenho maturidade pra enfrentar o que preciso, inclusive a distância da família, em busca de algo que sempre me foi caro. Nunca será perfeito! Mas pode ser bem vivido Bjs, Nanda

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  5. Nanda, a Manu ainda não chegou nos trinta... E ainda podemos incluir Júlia, Jordana e Pablo. E os menores também... Então, no campeonato, nivelaremos por baixo, ok? rsrsrsrsrs
    Suas ponderações quanto à realização profissional também andam atormentando minha vida. TEnho 34 anos, fiz 11 anos de formada e estou, de novo, nos "bancos escolares", à espera de um lugar ao sol. Será que encontrarei? E se não encontrar? Fazer o quê da vida? Todos os dias me pergunto... Beijossss

    Vivi, é rir pra não chorar, né? rsrsrs
    Beijosssss

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  6. Quel! Confesso que esse é o primeiro texto seu que eu leio. Adoreeeei amiga, tá de parabéns, vc escreve super bem! E o assunto é muito interessante e foi super bem abordado na minha opinião ;)
    Bem... Já sei que vcs vão me zoar, dizer que preciso "crescer", que não sou mais adolescente, etc, etc. Mas vou ser sincera... Não me identifiquei AINDA, com o seu texto e o comentário da Viviane. Sei que não tenho mais vinte e poucos anos. Sei que sou e me sinto adulta. Mas ainda sinto praticamente o mesmo frescor, a mesma vitalidade e energia dessas jovens que vcs citaram (do avião e da "disco" em Lisboa). Vcs me conhecem, adoro sair e dançar. E pasmem! Meus "passinhos" não estão nada out, pelo contrário, eu tô super in, ligada na última moda das pistas! kkkkkk (Essa matou vcs né?!).
    Mas sem brincadeira, acho que me comporto devidamente como uma mulher de 31 anos. Mas minha cabeça e meu espírito são bem jovens, vcs é que estão ficando velhas e chatas! Hauhauhauhau!
    Tenho uma criança em mim, é fato.Mas acho que vcs estão se achando velhas demais para as suas idades. Vcs estão exagerando. Temos vários exemplos por aí de mulheres de 30 e poucos, 40 e poucos anos que estão esbanjando vitalidade e disposição. Ex: Luiza Brunet (quase 50 anos); Letícia Spiller; Danielle Winits, IVETE SANGALO... E vários outros. Até a Cristina Brasil, mãe da Carol prima da Isa, é um belo exemplo (Vivi conhece).
    Enfim, nem 8 nem 80. Temos que achar o equilíbrio. Não dá pra estar na casa dos 30 e se comportar totalmente como uma adolescente. Mas vcs tb não podem exagerar e se acharem velhas, caídas, acabadas e sem disposição. Vcs não são nada disso! Me polpem né?! Estão é precisando de uma bela saída SÓ com amigas, pra tomar uns Mojitos, ouvir boa música e dançar até os pés não aguentarem mais. Duvideodó que se esse evento acontecesse de verdade, vcs não iam se divertir e dançar qualquer passinho out rindo muito entre as avassaladoras!
    Amo muito vcs!
    Bjs da amiga "Peter Pan"!

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  7. Cada idade tem a sua beleza, e essa é a verdade. Evoluímos, é claro, mas infelizmente a nossa sociedade ainda vê a mulher como alguém que tem de permanecer bela e desejável para sempre. E somos cobradas por isso. Cuidar de si mesma, da saúde, do corpo e da aparência é um ato de amor próprio e não uma obrigação. Existem outras belezas como conquistas profissionais, viagens, independência, cultura adquirida ao longo do tempo, maturidade, sabedoria... Uma mulher com todas essas qualidades é admirável. Beleza pra mim sem isso não é nada. Hoje sabemos nos divertir com muito mais qualidade, priorizar o que é importante e vale a pena, coisa que as meninas de 20 anos ainda não sabem... Um dia saberão, como nós. Um grande beijo, Luciana

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  8. Peter Pan (vulgo Bibica),
    E eu não te conheço o suficiente, gata?! E eu não sei da sua mega power ultra empolgação eterna? Cansa só de pensar... rsrsrs Acho que todas nós temos sim vontade de viver, de sair, de dançar, de curtir a vida... Mas não mais de segunda a segunda como foi um dia... Nem dá mais. A rotina impede. E não dá para fingir que não nos vemos no espelho, né? Longe de mim ser cocota ridícula, sabe? Tô fora! Beijosss e espero que você continue entrando aqui e comentando, viu?

    Lu,
    Obrigada pelo comentário, viu? Concordo plenamente com você. Se eu fosse homem, não me trocaria, por exemplo, por duas de 17 anos de idade. De jeito nenhum!!! E, apesar do corpo não ser o mesmo, a cabeça está cada vez melhor! Prezo num homem, por exemplo, a cultura, o bom papo, a cabeça boa, a sabedoria adquirida em anos. Muito mais que um corpo escultural. Espero que a recíproca também seja verdadeira, né? Beijossss

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  9. Meninas,
    Hoje na aula, a coleguinha de vestido nude foi vestida de calça legging azul marinho, blusinha baby look do Mickey e brincos imensos dourados que ficaram ótimos acompanhando um vestido de noite... Ela é breguérrima, gente! E tem a bunda caída, eu juro... rsrsrsrs

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  10. Olha que delícia, ela é brega e tem a bunda caída!!!kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk tá vendo que nem tudo são flores e que o "mito nude" caiu? e assim também são com os homens, acham bonitinha, novinha, depois vem a fase bobinha,chatinha, enjoadinha...enquanto nós somos ÓTEMASSSS!!! HAHAHAHA agora, se ela for bonitinha, novinha, inteligente e interressante...FUDEU!LOL

    Bia Peter Pan, com 31 eu também pensava como vc, adorava uma night, o corpo nem era de 20 nem reclamava como agora, tinha todo o vigor! só que 5 anos de diferença na casa dos 30 é muita coisa, conversamos daqui há alguns anos para ver se você ainda é Peter! rsrsrsrsrsr

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  11. Daqui a cinco anos estaremos na idade da loba, Vivi. Deixaremos de ser balzacas para sermos lobas... Rir ou chorar? Eis a questão!

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  12. Quequel,

    realmente são bastante divertidos os textos e comentários desse tema, pois também sempre prefiro rir da vida!

    Ouvi uma piadinha nessa semana comparando as mulheres de 20 e 30 anos. A mulher de 20, a cada dia na semana, vai para o trabalho mais bonita e arrumada, pois se aproximam as baladas do final de semana, enquanto a mulher de 30 começa a semana bonita e arrumada e termina cansada e largada. Piada contada por 2 amigas de mais de 30...

    Mas tenho que comentar que apesar dos atributos físicos e de disposição das menininhas de 20, a maturidade e capacidade de lidar com a vida das mulheres de 30 são insubstituíveis...

    Beijo e saudades,
    Vini

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  13. Vini! Finalmente uma opinião masculina! Só posso agradecê-lo pelo comentário e dizer que fico super feliz que há homens que reconhecem o valor das balzacas. Em meu nome e de todas as amigas que aqui postaram comentários, agradeço pelo "insubstituível", viu? Beijosssss

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