quarta-feira, 5 de maio de 2010

“Caixinha de surpresas.”

Filho. Caixinha de surpresas. Loteria. Não se sabe se nascerá menino ou menina, com a cara do pai ou da mãe, bonito ou feio, inteligente ou burro, perfeito ou não, bom ou ruim.
Sempre achei isso. Mas sempre quis experimentar a maternidade, ainda que com todos os “se”, de qualquer jeito.
Mas confesso que bateu certo receio depois de ter lido “Precisamos falar sobre o Kevin”, ficção escrita por Lionel Shriver, publicada no Brasil pela Editora Intrínseca.
Através de cartas endereçadas ao marido, uma mulher analisa seu casamento, seu relacionamento com os filhos, a maternidade em si e, especialmente, procura esmiuçar e entender a mente do filho Kevin que, aos quase 16 anos de idade, matou, em uma escola dos EUA, vários colegas, uma professora e um atendente de cantina, repetindo o que ocorreu em diversos outros massacres em escolas espalhadas pelo país.
Nas cartas, há ainda análise, em segundo plano, do próprio país e da paranoia coletiva que assola os cidadãos americanos.
Quando terminei a leitura do livro, cujo final é ainda mais surpreendente e chocante do que toda a narrativa, fiquei sem saber a quem atribuir a culpa pelo acontecido. Se à mãe, ao pai, aos dois em conjunto ou ao Kevin.
Mas pensei bem e cheguei a duas certezas.
Que os pais, ainda que trocando os pés pelas mãos, foram bons pais (ela, a meu ver, bem mais do que ele), repletos das melhores intenções.
E que Kevin já nasceu ruim, muito ruim; portanto, a culpa pelo massacre é só dele.
E é aí que mora mais uma dúvida: será que as pessoas já nascem com índole e personalidade, que vão sendo moldadas – melhoradas ou pioradas – pela educação familiar e pelo ambiente em que vivem?
Tendo a acreditar que sim, pois, do contrário, não haveria irmãos criados juntos, pelos mesmos pais e ao mesmo tempo, com personalidades e comportamentos tão distintos. E não haveria também psicopatas surgidos de famílias mais do que normais.
O livro, obviamente, deu um nó nas minhas ideias sobre a maternidade e o que esperar dos filhos.
Será que vale a pena correr o risco de dar a vida a um Kevin? E a responsabilidade com a vida dos outros? A culpa pelos distúrbios dos filhos é sim da criação a eles dada?
Mas há o outro lado da moeda...
Como não se entregar ao privilégio de conceber um ser, dando-lhe a plenitude de uma vida? Como fugir do amor incondicional pelo filho? Como não se jogar ao prazer de uma linda família formada?
Assim, quem souber a resposta, por favor, grite!
04/05/10

4 comentários:

  1. Como saber se colocamos um ser humano neste mundo doido ou um ser humano doido no mundo? Não sei se existe resposta pra isso. Só sei que se ficarmos pensando em ses e poréns não fazemos nada na vida. O jeito é arriscar...

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  2. É verdade, Mila, você tem razão. Acho que vale a pena o risco, né? Obrigada pela opinião! Beijossssssss

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  3. Ei Quel,
    Posso dizer q esta tb eh uma preocupação q tenho, como conversamos há pouco...
    Deve ser doloroso para um pai ou uma mãe perceber desde o início q seu filho tem caracterísicas como as desse rapaz Kevin, e que elas estão ali independentes de seu esforço para criá-lo.
    Comecei a leitura de um livro q aborda o desenvolvimento psicológico das crianças e suas alterações. O pediatra deveria estar sempre atento a estas questões, mas infelizmente...
    COntinue com suas crônicas!

    Bjos,

    Nanda

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  4. Nandoca!!!! Adorei a nossa conversa mais cedo e também o comentário aqui no blog. Palavras de uma pediatra! Que chique! Continue acessando e comentando, hein? Beijosss

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